Um dia que ainda pode se tornar histórico
Indescritível, não em um sentido magnífico ou enaltecedor, indescritível no sentido da dificuldade de tentar definir o que foi e como foi o 5º grande ato ontem pela noite em São Paulo, mas vamos tentar contar um pouco dos fragmentos do movimento que presenciamos, o que ouvimos e vimos.
Primeiramente, destaque para a gigantesca quantidade de pessoas (segundo alguns rumores do próprio Movimento Passe Livre um todo de 100 mil cidadãos), que assim como nosso coletivo, compareceu até mesmo de outras cidades e estados para o grande ato em São Paulo.
O ato não só mobilizou milhares de pessoas como também sensibilizou muitas que por motivos de trabalho ou de família não puderam participar, mas seguiram o apoio solicitado nas redes sociais #VemPraJanela e colocaram suas bandeiras brancas pedindo não-violência nas janelas de suas casas e no trabalho, liberando seu Wi-Fi ou dando suporte com água, vinagre e registros de tudo o que ocorria.
O Largo da Batata, era o ponto de encontro inicial do movimento que estava marcado para as 17hrs, nós chegamos por volta das 15hrs, nessa hora havia uma “meia dúzia” de pessoas e em questão de minutos todo o Largo da Batata e as ruas que o ligavam estavam interditadas pela multidão que não parava de chegar.
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Na praça, a população se dividiu em três marchas, nos seguimos a que foi para a Paulista, que foi pacifica e que não teve confrontos, ao iniciar nossa caminhada fomos ainda mais motivados pela projeção em um prédio em construção próximo ao Largo da Batata que trazia mensagens como Movimento Passe Livre, R$ 3,20 não e Vem Pra Rua.
Seguindo em caminhada, o consenso geral dos manifestantes devido a toda repercussão negativa dos excessos da Polícia na última quinta-feira era de que seria 8 ou 80, portanto, haveria uma repressão maior ainda do que a manifestação anterior ou seria tudo tranquilo, mas dessa vez o povo estava mais preparado, o mistério permaneceu até pelo menos a chegada na paulista, onde ficou claro que a PM estava preparada para intervir somente em casos não tradicionais, provavelmente, sem todo o autoritarismo do ato passado, tudo indicava que a noite seria tranquila, tanto é que na marcha rumo a Paulista, se ecoava gritos afirmando: “Que coincidência, sem a PM não teve violência.” Mal sabíamos nós que conflitos ainda iriam ocorrer na outra marcha.
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Como um balanço geral do “Quinto grande ato contra o aumento das passagens“, podemos dizer que vimos claramente as teorias das quais acreditamos em pratica pela massa que compunha a manifestação na cidade e algumas posições das quais discordamos. O principio de ahimsa — até mesmo para aqueles que não conheciam o movimento de resistência não-violento de Gandhi — estava impregnado na grande maioria dos manifestantes, seja por pura ingenuidade de não saberem que lutas geralmente sempre são marcadas por destruição de objetos públicos e privados ou por uma postura 100% pacifista da população mesmo. Vimos cidadãos dos mais variados pensamentos, posturas e atitudes, do pacifista ao ativista sabotador, dos sindicalistas aos integrantes das organizadas, da mídia permitida a mídia reprimida (justamente), dos ativistas LGBTs aos ativistas pelos direitos animais, das organizações não governamentais, aos coletivos, associações e partidos políticos e isso tudo que torna o movimento belo, a diversidade cultural e os movimentos sociais se integrando.
Infelizmente, nem todos se entendem, houve aqueles que não respeitaram o direito alheio, estes jovens de manifesto também estavam presentes, não falamos jovens em relação a suas faixas etárias, mas no exercer de sua cidadania, pessoas das mais variadas idades que nunca haviam participado de reivindicação alguma por direitos na vida e estavam completamente eufóricos e perdidos no meio do movimento, mais preocupados com seu status quo, com suas fotos de perfil no facebook do que com a causa e a proposta do movimento, pessoas que ora gritavam Fora Corrupção, mas não se preocupavam com o lixo que jogavam no chão, que seguiam e reproduziam todo tipo de grito, bastando apenas ter sido veiculado por um grupo, gritavam sem nenhuma avaliação crítica sobre o que transmitiam, muitas vezes, contradizendo o próprio motivo por estarem no ato ou suas próprias reivindicações, posicionamentos autoritários em relação aos militantes partidários que não podiam levantar suas bandeiras e exercer também sua postura política, compreendemos que certos militantes de partidos foram oportunistas e ainda atrapalharam uma melhor visualização do manifesto, faltou bom senso, mas isso não desqualifica o direito constitucional de exercer sua representação política, mas nada que um pouco de bom senso, uma grande dose de liberdade e respeito ao direito do outro não resolvesse, algo que até os grandiosos anarquistas pediram e foram favoráveis a liberdade partidária.
No demais, o povo não acordou, o povo já está acordado, os movimentos sociais estão há muito tempo atuando nas ruas, a diferença é que agora uma parcela significativa da população saiu da inércia e devido a esse fenômeno aliado a repressão policial em cima da mídia houve toda essa dimensão, esperamos que agora o povo não somente se mantenha nas ruas por um curto período de tempo, mas que ele amadureça e aprenda a ter senso crítico.
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DEZESSETE de JUNHO foi um grande dia, o dia do maior e mais calmo de todos os atos, talvez até torne-se um dia histórico para esta geração e para história do Brasil, não pela multidão que saiu às ruas, mas pela atitude que a sociedade pode vir a tomar daqui para frente, da maneira que vai lidar e reivindicar seus direitos, da forma que vai cumprir seus deveres (não vamos esquecer do famoso jeitinho brasileiro), do senso crítico social que tem que aflorar, a sociedade pode tornar o ato histórico, só vai depender dela.
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