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Entrevistas, Instituto Royal.

Entrevistamos a Biomédica Bibiana Alves: saiba o que ela pensa sobre os testes em animais

CAMALEÃO: O que foi o dia da aprovação da PL 777 para você?
Bibiana Alves: Hoje foi um dia histórico para a causa animal, depois de anos de luta, o estado de São Paulo é o primeiro do Brasil a proibir testes com animais na área de cosméticos, mas acredito que como muitos pensem, isso não é um atraso desejado pelos “ambientalistas”, e sim uma apelo para que as indústrias mudem seus métodos e inovem. Encontrar substituições para esses métodos, é sinônimo de custo e tempo, porém em diversos lugares esses métodos já são mandatórios, na União Europeia esses testes já são proibidos desde 2013.

CAMALEÃO: Você poderia comentar sobre alguns testes realizados por essa indústria?
Bibiana: O teste de irritação ocular de Draize, muito doloroso para os coelhos, é um claro exemplo de sofrimento desnecessário, pois desde a década de 80, muitas empresas já produzem tecidos tridimensionais, que reproduzem com precisão as superfícies do olho humano, na Alemanha, a fina membrana que separa a gema da clara no ovo de galinha tem servido como substituta para a córnea nesses testes e mesmo assim o animal ainda é utilizado no Brasil.

Olho de coelho no teste de  Irritação dos Olhos (Draize).

Olho de coelho no teste de Irritação dos Olhos (Draize).

CAMALEÃO: Qual o próximo passo para o movimento animalista brasileiro na sua opinião?
Bibiana: O próximo passo a ser visado é a proibição de animais no ensino, na Inglaterra e Alemanha o uso de animais na educação foi abolida, na Europa diversas faculdades não utilizam mais, na Grã-Bretanha é contra lei o uso de animais na prática de cirurgia por estudantes de medicina. E todos esses profissionais são tão bons quantos os médicos brasileiros, que se utilizam de métodos arcaicos para a formação. O grande desafio estará frente a indústria farmacêutica, que terá que investir bilhões de reais para a criação e aprimoramento de métodos substitutivos que já existem, a análise genômica e o sistema biológico in vitro já vêm sendo utilizado por pesquisadores brasileiros.

CAMALEÃO: Dentre os métodos substitutivos, existem outros?
Bibiana: Dentre os métodos ainda temos, a cultura de tecidos proveniente de biópsia, cordões umbilicais ou placentas, que dispensam o uso de animais. Estudos clínicos, autópsias, modelos computadorizados e pesquisas epidemiológicas são métodos que não apresentam perigos para os humanos. Quando um medicamento chega ao mercado, nós somos as cobaias, pois somente os humanos, podem apresentam efeitos adversos para um medicamento feito para humanos. Flosin, Zelmid, Nomifensina, Amrinone, Fialuridina, Domperidone, Clindamicyn, são exemplos de medicamentos que após o seu lançamento, tiveram efeitos adversos gravíssimos e óbitos, sendo retirados imediatamente do mercado. Muito tempo, dinheiro e recursos -vidas- gastos em prol de uma ciência que não é eficaz.

CAMALEÃO: Medicamentos no mercado testados em outras espécies fazendo um grande dano a nossa espécie também. Isso é muito triste e alarmante, e o que você aguarda dessas lutas e vitórias recentes?
Bibiana: Acredito que nos resta aguardar e esperar para que essa luta não tenha sido em vão, que após a bandeira ter sido levantada, haja incentivo à pesquisa de métodos substitutivos, que também haja fiscalização em São Paulo, e que outros estados sancionem a mesma lei, caso contrário os laboratórios só irão mudar seus endereços e permanecer com a exploração das outras espécies em laboratório e danificando a saúde da população através de produtos com efeitos adversos.

* Bibiana Alves é Biomédica formada pela Universidade de Santo Amaro -Unisa/OSEC.

 

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