Nenhuma organização me representa, pois sou eu mesmo que me represento. Circulo livremente por vários coletivos e pego o que me interessar e achar válido frente experiências particulares vividas até o momento.
No que tange a SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), que será o tema abordado nesse espaço, eu não promovo a campanha Segunda Sem Carne por motivos conceituais e pelas consequências que observo em minhas vivências diárias. Falarei sobre alimentos, pois é o campo onde uma organização dietética tem alcance.
Um título é lido 5 vezes mais que um texto, sendo assim é o título que fixa uma mensagem para a grande maioria, que nesse caso (Segunda Sem Carne) é equivocada em termos de propósito para abolição do uso de animais como propriedade na alimentação humana. Sendo assim, desvia de uma comunicação clara sobre o vegetarianismo (baseado em vegetais).
Diariamente converso com pessoas que equivocadamente acham que abolir a carne, em qualquer nível que seja, é mais importante do que abolir o uso de outros produtos de origem animal. Essa falsa impressão é reforçada ao destacar um só elemento alimentar como sendo negativo. A instituição pode responder dizendo que a campanha visa “salvar” o maior número possível de animais. Seguindo essa lógica, por que então não focar uma campanha para abolição de ovos e/ou laticínios, sendo que esses consumos implicam em muito mais morte, dor e sofrimento animal do que a própria carne?
Obtemos a resposta ao perceber que a definição da própria palavra dietética, vegetarianismo, foi tomada por ovo-lacto-api-vegetarianos. Sabemos que no popular o termo vegetarianismo genericamente implica apenas na abstenção e carnes, ou seja, que seria um sinônimo de ovo-lacto-api-vegetarianismo. Portanto tocar nesse ponto explicitamente não é tão interessante para uma organização que reúne e acolhe todos os “tipos” de vegetarianismo em sua associação. Sendo assim, a campanha Segunda Sem Carne fica a frente de um propósito maior de libertar os animais de outros tipos de exploração além das carnes.
Eu mesmo, por vários anos, fui um desses indivíduos iludidos no ovo-lacto-api-vegetarianismo, mas antes que alguém fale por mim que essa foi (tenha que ser) uma etapa para se chegar ao vegetarianismo de fato, respondo: o ovo-lacto-api-vegetarianismo só me atrapalhou para me tornar vegetariano de fato, em especial por causa dos opióides morfínicos existentes nos laticínios e da grande ilusão que “a carne é um mal maior”, de que ao abolir o consumo de carnes estou “ajudando” os animais. Só mudei a partir do momento que tive uma mensagem clara sobre Ética e Direitos Animais. Entendo que minha forma não é a única, e que outras pessoas podem mudar por outras vias, mas repito que o que promovo se deve ao que observo em minhas vivências diárias, que não são poucas acerca dessa questão.
A coisa mais comum é vermos pessoas reproduzindo argumentos contra a carne, pouco se importando com outros “alimentos” animalizados, e em muitas vezes aumentando o consumo dos mesmos (foi também o meu caso), ignorando completamente e militando um discurso injusto, infundado e alienado de criminalizar o consumo de carnes enquanto se esbanja em ovos, laticínios e mel sem a mínima reflexão, que não é estimulada ou fica sempre em segundo plano.
Outro ponto é que o título dessa campanha fixa em um dia da semana sem passar a ideia de progressão dessa abolição, o que ajuda a estagnar e fixar nas segundas feiras, dia da semana considerado como menos interessante pela sociedade.
Entendo que essa campanha possa ser alterada/substituída para ficar de acordo com todo aporte nutricional (vegetariano real – sem produtos de origem animal). Para que mais uma campanha caminhe rumo à libertação animal, com muita saúde e sem tantos desgastes desnecessários entre todas as pessoas que fazem um sério trabalho nesse campo animalista, de saúde e ambiental, independente de egos. O acesso de hoje me faz ver que tudo está muito conectado.
* Todo esse texto não tem ligação/rixa pessoal com ninguém. Nem dos que criticam quanto aos que ainda divulgam essa campanha criticada. São críticas construtivas as quais qualquer campanha há de estar aberta para receber. Se clamamos por mudanças e acharmos que isso será cômodo, logo então iremos nos decepcionar. Desabafos, desconfortos e insatisfações de todos os lados possíveis e inimagináveis nos acompanham, senão não é mudança. Viva!
Texto publicado originalmente no site SVB Não Me Representa.
Deixe uma resposta