Maria do Espírito Santo e José Cláudio – Zé da Castanha
Em maio de 2011, na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará, foram assassinad@s a tiros José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva.
O casal, lider extrativista na região, viviam da extração sustentável das castanhas e outras frutas e frequentemente denunciavam as atitudes destrutivas por parte de madeireiros, carvoeiros, grileiros e pecuaristas; Maria do Espírito Santo e Zé da Castanha, assim como era chamado o ambientalista José Claudio, chegaram a realizar juntos diversas denúncias, aonde conseguiram que pelo menos 10 serrarias fossem fechadas, cinco delas em Nova Ipixuna.
Segundo José, viver da floresta, ser agroextrativista é diferente de ser do agronegócio, pois não se pode firmar contrato nenhum de quantidade de produto, visto que tudo é retirado de acordo com a demanda da floresta e não do homem. A andiroba é disputada com os animais da floresta, os papagaios e araras, comem ela lá em cima, ao cair no chão, eu disputo com outros animais, sem contar os que ficam perdidos na folhagem, ao todo acabo aproveitando 30% da árvore, retirando apenas o que ela dá.
A universidade local tinha um programa, o Lasat, que era coordenado pelo francês Emanoel Vanberg e mostrava que a agricultura ecológica é viável e uma alternativa sustentável, diferente da economia do carvão vegetal e o pasto de gado.
Em apresentação realizada no TEDxAmazônia (uma conferência sobre Tecnologia, Entretenimento e Design), Zé da Castanha, afirmou:
“A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo. A mesma coisa que fizeram com a irmã Dorothy, querem fazer comigo. Eu posso estar hoje aqui conversando com vocês, daqui a um mês vocês podem saber a notícia que eu desapareci”.
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A emboscada
No dia 24 de maio de 2011, Maria e José acordaram cedo como de costume, passaram na casa da vizinha Laísa Santos (irmã de Maria) e se dirigiram a cidade, José foi pilotando a moto com sua esposa na garupa. Ao passarem por uma ponte que levava à cidade foram cercados por pistoleiros (Lindonjonson e Alberto) que logo “atearam fogo” acertando um primeiro tiro de escopeta, que atravessou a mão de Maria e o lado esquerdo do abdome de José, e outros tiros foram disparados até a morte do casal, Zé da Castanha ainda teve sua orelha arrancada enquanto estava vivo, o que representa sinal de “serviço” feito no coronelismo.
Justiça (?)
Em abril de 2013, os três acusados envolvidos no crime do casal ambientalista foram a Júri popular, dois deles foram indiciados pelo crime e o pecuarista José Rodrigues Moreira, que foi acusado de ser o mandante foi absolvido.
Segundo os jurados que estavam sob o olhar da comunidade internacional, o motivo da absolvição do pecuarista é a falta de provas que o ligavam ao crime, apesar da existência de um capuz encontrado próximo a cena do crime com o DNA dos irmãos pecuaristas Lindonjonson Silva e José Rodrigues.
Os capangas Alberto Nascimento e Lindonjonson S. Rocha foram acusados de serem executores do duplo homicídio, Alberto ainda teve um agravante a mais pelo ato de ter arrancado a orelha direita de José Cláudio, e ambos vão cumprir pena em regime fechado, 45 e 42 anos, respectivamente, e o período de 18 meses em que permaneceram presos será descontado da pena.
Meio Ambiente
Segundo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), os últimos meses tiveram um grande crescimento em destruição das florestas — com uma alta de 500% no Mato Grosso em abril e 72% na Amazônia em maio.
Recentemente, neste mês de maio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu mais de 370 toneladas de soja produzidas em fazendas já embargadas por desmatamentos ilegais, apesar do alarme a cerca do cada vez mais frequente e crescente desmatamento do Pará, o estado ainda possui 55% do seu território “protegido” por estar designado como Áreas Protegidas (Terras Indígenas e Unidades de Conservação), e a soja apreendida não será mais utilizada para o gado e foi destinada a projetos de combate à fome.
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Atualidade
Laísa Santos, filha de castanheiros, irmã de Maria do Espírito Santo, e Claudelice Silva também filha de agroextrativistas e irmã de José Cláudio se uniram e continuam a luta do casal, defendendo as florestas e a comunidade.
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Fatos
No dia da morte do casal a bancada ruralista-pecuarista vaia e zomba do acontecido na Câmara dos Deputados em Brasília.
Zé da Castanha era descendente de indígenas, nasceu e viveu no mato, teve o extrativismo como origem de sua raiz familiar.
Frases
“Essa é a Majestade. A mãe de todas as outras castanheiras por aqui.” – Zé da Castanha
“A pior coisa do ser humano é a omissão.” – Maria do Espírito Santo
“Essas árvores da Amazônia, são minhas irmãs, eu sou filho da floresta.” – Zé da Castanha
“Não tem como um ambientalista ter diálogo com um grupo de agronegócio-fazendeiro, a água não se mistura com o óleo, e o ecologista é a água.” – Maria do Espírito Santo
“Como é que um sujeito pode vender uma árvore que ele não plantou, não aguou, não cuidou, não gastou um centavo para fazer?” – Zé da Castanha
Nota do Camaleão:
Acompanhamos e relatamos esse caso em nosso site e nas ações offline desde antes da morte do Zé da Castanha, recebemos a notícia com enorme tristeza, não só pela morte dos nossos irmãos Maria e José que foram assassinados, mas também pela floresta, pela fauna da região, pela comunidade, pelos animais que com a destruição das castanheiras serão escravizados para produção de produtos animais e também pela ignorância das pessoas que estão envolvidas nesse crime e ‘mergulhadas’ na ganância.
Nosso objetivo é não deixar que este caso de altruísmo pelas florestas caía no esquecimento e que isto sirva como mais um exemplo de como existe uma gigantesca ligação entre esses crimes violentos, o agronegócio e o consumidor que paga pela aquisição de tais produtos pecuaristas também oriundos de violência.
Os conflitos de terra entre comunidades, como a do Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, população indígena e fazendeiros pecuaristas é intenso no país e é cada vez mais agravado pela alta demanda por produtos de origem animal que é boa parte financiada pela região sudeste do Brasil.
O não consumo de tais produtos animalizados se faz urgente e necessário tanto por motivação de cunho ético em relação as espécies animais exploradas, mas também pelo impacto social e ambiental que essa triste demanda gera.
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