Escrito em por
Artigos.

Caso, você leitor(a) já tenha considerado exagero falar de direitos para insetos, pule para o final (**) e depois volte a leitura para o começo.

Acabei de ver um pai brincando com seu filho com um inseto.
Por sorte, o inseto já estava morto antes da chegada do malabarismo deles.

O pai pegou o inseto morto e o usou como bola de futebol para brincar com seu filho, como se fosse aquele futebol de botão.

Depois de um minuto, acredito que o cara tenha se tocado do ato insano, não por pensar no corpo do “bichinho”, mas por ter considerado nojento e anti-higiênico para seu filho (que é um ser intocável, puro e superior, acima de tudo e todos, afinal é um “ser humaninho” e além de tudo é seu filho).

O inseto foi jogado fora.
Mas, nesse ato, aparentemente banal, e invisível aos olhos de muitos, o especismo já foi ensinado e passado adiante para outra geração, incluo aqui também os veganos (que geralmente só se preocupam com animais maiores) .

O ato de brincar (“diversão, humor, alegria”) com um inseto, esteja ele morto ou não, exemplifica um pensamento dominante de que podemos e temos direito a isso, que podemos violar o corpo do outro, simplesmente, por que queremos (e somos do grupo dominante) que podemos usar o outro para diversão, para deboche e para o que mais quisermos, apenas por que tal ato é feito por nós, para nós, lembrar aqui de bullying, de violência, de falta de respeito, de violações físicas e/ou até mesmo sexuais, não é nada absurdo, apenas exemplifica até onde sua sensibilidade/percepção pode chegar, ou até onde você consegue ver a raiz dos problemas, afinal, podemos resumir essa atitude com o velho pensamento da lei do mais forte sobre o “inferior”, mais fraco, o que tornaria mais claro e compreensível para muitos. Esse texto pode ser considerado “bobeira” por muitas pessoas, mas é exatamente com esse exemplo de pai para filho, que o pai ensina a superioridade do homem em relação a natureza, poderia ser qualquer animal, o ensinamento é o mesmo.

Lembro de minha infância quando fui ensinado por certos adultos que amarrar insetos voadores ou até mesmo pequenos pássaros era divertido, pois quando eles fossem voar nós poderíamos puxar de volta eternamente, talvez, se tivessem me ensinado que devemos respeitar os animais na minha infância e que diversão só é algo bom quando serve para trazer felicidade à todos envolvidos eu teria me tornado vegano mais rápido e um defensor das outras espécies muito antes, sem dúvidas, apesar de ser um defensor da natureza desde muito cedo.

Bullying não é diversão seja lá quem for a vítima (humana ou não).

O problema maior em jogo e o que de fato me incomodou na atitude desse pai, não é apenas o pensamento do “humano-branco-adulto-civilizado” e sim o fato de nesse simples ato, ele ter propagado e ensinado a essa criança de lá seus dois, três anos, toda uma cadeia de pensamento viciado de carga especista, de antropocentrismo e, de acordo, com este pensamento podemos fazer o que bem entendermos com os animais, pois somos humanos superiores.

especismo-dia-dia-insetos-direitos-i-love-barata

Esse ato de brincar com um inseto na infância, gera uma mentalidade de que podemos fazer o que quisermos, caso formos da espécie humana ou estejamos em situação privilegiada de alguma forma, esse ato simples, gera um pensamento que podemos justificar qualquer violação de direitos, seja direito de quem for, pense aqui nos direitos daqueles que você mais se simpatiza, seja dos pandas, dos cães, dos índios, das mulheres, dos consumidores, ou qual direito for, ele pode ser violado, desde que seja violado para benefício próprio de um grupo dominante, essa é a lei do mais forte, é isto que foi ensinado e repassado a essa criança, cabe a ela agora ter a sorte de ganhar a oportunidade de um contato harmônico com os animais no futuro, para que esse pensamento não prevaleça ou após contato com a teoria de direitos animais ou por reflexão própria mudar esse pensamento. E é claro que a cultura especista eletiva local vai direcionar “qual pode e qual não pode”.


Acredito que boa parte dos meus amigos veganos, vão entender muito bem o que estou questionando aqui e também a crítica por parte de alguns protetores ‘de animais’, vegetarianos e veganos que não se preocupam tanto com os animais “feios” ou menores (insetos).

**
Quanto aqueles que consideraram essa ótica de direitos, algo exagerado, bobo, ou frescura, apenas por tratar de maneira sutil os direitos dos insetos ou por acreditar que eles não tenham sentimentos, que eles não sofram, gostaria de dizer que sim, eles sofrem, pois possuem estrutura biológica para isso.

Então, o que no senso comum torna ridículo alguém que defenda eles, ou a defesa deles, é o simples fato de que são tão pequenos e tão esteticamente diferentes de nós que não possam ter direitos (ou senciência), como se a senciência (sentir dor ou outras emoções como tristeza e alegria) fosse fundamentada no tamanho ou aparência de um ser e não em ter um sistema nervoso central, como eles, as outras espécies e nossa espécie temos.

Se acreditarmos que a importância do direito de um ser senciente, se realiza baseada em seu tamanho, não poderíamos discordar dessa mesma “lógica” aplicada aos seres humanos, onde seres humanos de diferentes tamanhos teriam mais ou menos direitos, sendo assim um humano de dois metros teria mais direito do que um anão; na minha opinião, isso soaria no mínimo ridículo, o que de fato é, portanto, se torna também esquisito justificar que insetos não tem direitos com base em seu tamanho, ignorando o fator biológico (científico) que atesta que eles são seres sencientes, logo não poderíamos justificar que insetos não tem direitos apenas por que são menores que nós.

Direitos para todos os seres sencientes e/ou conscientes, humanos ou não-humanos, vertebrados ou não-vertebrados, ‘bonitos ou feios’, grandes ou pequenos, insetos ou não!

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
SINGER, Peter. Libertação Animal, 1975.

Deixe uma resposta