Treino pesado, Musculação e Veganismo pelos Direitos Animais
Entrevistamos o vegano Paulo Victor Pinheiro, que tem como hobby o fisiculturismo e já na sua competição de estreia levou troféu de prata. Atualmente, se prepara para participar da 14ª edição da Fitness Brasil Bahia, que será realizada de 10 a 12 de outubro em Salvador, cidade natal do atleta.
“Paru”, como é conhecido, tornou-se vegano em setembro de 2001. Hoje, ele é um exemplo de que é perfeitamente possível unir músculos e uma alimentação sem produtos de origem animal.
Portal Veganismo: O que veio primeiro na sua vida, o fisiculturismo ou o veganismo?
Paru: Me tornei vegano com 14 anos de idade, nem sabia o que era musculação ou fisiculturismo. Comecei a treinar com 17 para 18 anos, apenas por saúde, pois era obeso. Ano após ano percebi que estava ficando com um corpo a nível de competir. Sempre me questionam isso, pois acham que tive ganhos musculares e depois só mantive sendo vegano…
Portal: Você acha que animais têm direitos?
Paru: Sim, eles têm os mesmos direitos a ter uma vida livre e tranquila que os seres humanos. Não merecem ser usados em atividades de nenhuma natureza que lhes causem quaisquer tipos de danos, sejam físicos ou psicológicos.
Resumindo: eles têm o direito de viver em paz.
Portal: O que te levou a deixar de consumir produtos de origem animal?
Paru: O motivo direto foi assistir ao documentário “Meet your meat“, isso me fez ver a realidade do sofrimento que existe no processo de produção de carnes e derivados animais e que aquilo era completamente errado, que o homem não tem direito de interferir na vida de qualquer outro ser. Pode até ser legalmente aceito, mas não é ético!
Ao ter noção dos danos causados aos animais, para a produção de carnes ou derivados, desejei não contribuir mais com isso, independente do preço que tivesse que pagar.
Portal: Você costuma dizer que é vegano para os companheiros de academia e nas competições? Qual a reação das pessoas quando você diz que não consome nada de origem animal?
Paru: Sim, sempre treino com camisas com temas veganos e abolicionistas. As pessoas se comportam com incredulidade. Mesmo vendo que é possível eles não acreditam, devido à grande quantidade de informações equivocadas existentes acerca do mercado de nutrição e suplementação esportiva.
Portal: Você tem “Vegan” tatuado nas costas. Considera seu envolvimento no fisiculturismo uma forma de ativismo pelos animais?
Paru: Sim. Acredito no que diz o fisiculturista vegano Derek Tresize: “O bodybuilding vegano pode te ajudar a se tornar um modelo melhor se você está lutando pelos direitos animais”. Ter um físico forte, definido e saudável irá influenciar no modo como as pessoas te veem, pois quebra logo de cara o mito de que veganos são fracos, magros.
Portal: Que títulos você já conquistou como fisiculturista?
Paru: Participo de competições amadoras, para ser profissional em fisiculturismo é preciso vencer um campeonato de nível internacional. Só participei de uma competição até hoje, foi minha estreia. Sou Vice-Campeão baiano na categoria Fitness 1 pela Federação NABBA Brasil.
Portal: Que categoria é essa?
Paru: A Fitness 1 é para atletas com altura acima de 1,79m. O peso máximo do competidor é delimitado pelos centímetros da altura do atleta + 5 kg. Eu tenho 1,82m. Então tenho que estar com no máximo 87kg para participar. Como o peso é limitado, os competidores não são tão grandes.
Portal: Como é sua dieta de atleta?
Paru: Agora que iniciei o ciclo de competições, minha dieta tem duas fases: On e Off.
O Off é a fase de descanso, treinos menos intensos, menor uso de suplementação e consequentemente maior consumo de alimentos em geral. Nessa fase o consumo de carboidratos é elevado. Costumo comer muitas raízes como batata e inhame, além de muitos grãos, sementes e castanhas. Também se permite comer algumas comidas não tão saudáveis como junkfood e doces.
Na fase On a dieta é regrada, não tem nada desnecessário. O consumo de carboidratos é de moderado a baixo e o uso de suplementos é bem maior. Alimentos chave como batata doce, arroz, grão-de-bico, lentilha e castanhas estão sempre presentes em ambas as fases. O consumo de sódio é sempre reduzido e evito ao máximo o consumo de açúcares.
Portal: Manter-se forte exige cuidados constantes em termos de alimentação e exercícios. Como é seu dia-a-dia?
Paru: São em média oito refeições. Treino de segunda a sábado, em média duas horas por dia, divididas em dois treinos, um de exercícios aeróbicos e outro com pesos em turnos diferentes. Tento dormir pelo menos seis horas por noite, evito o consumo de açúcares, refinados em geral e não consumo bebidas alcoólicas.
Portal: Existe algum nutriente específico com o qual um atleta – ou um atleta vegano – precisa se preocupar?
Paru: Exclusivamente por ser vegano, não. A preocupação básica é com dieta limpa. Eu sempre evito consumir açúcar, tento caminhar como suggar free atualmente. Também evito alimentos com calorias “vazias”, mas isso se aplica aos outros atletas também. A alimentação 100% vegetariana por si só é muito rica em carboidratos, é preciso ter cuidado para não exceder as calorias nesse macronutriente.
Portal: E as proteínas? São mesmo uma dificuldade para os atletas veganos? O que fazer?
Paru: Nutricionalmente, a demanda para um homem adulto comum é de apenas 56 gramas (OMS), coisa que se alcança com dois punhados de grãos. A dificuldade existe por não existirem naturalmente alimentos vegetais livres de carboidratos. Isso requer mais cuidado na dieta. E também por parte da indústria, que não desenvolve produtos mais proteicos para atletas, pois a demanda é muito maior e o uso de suplementação se torna praticamente obrigatório em alguns esportes, assim como em minha categoria de competição.
Portal: Que dicas para uma boa saúde e desempenho você daria para veganos que querem praticar esportes que exigem força nos músculos?
Paru: É importante variar a alimentação ao máximo para que a ingestão de aminoácidos seja completa. E para quem quer atingir metas é fundamental ter uma dieta regrada e equilibrada. Uma boa dieta é responsável por 70% dos resultados, o restante é composto pelos treinamentos constantes com pesos. Sem esquecer os exercícios aeróbicos e boas noites de sono.
Portal: Onde costuma buscar informações sobre alimentação vegetariana para atletas?
Paru: Encontro informações sobre esporte e vegetarianismo nos sites Vegan Body Building e PlantBuilt Vegan Muscle e tem quatro locais em que divulgo essas informações: no site “Musculação Vegana”, na minha página do Facebook “Paru Vegan – Fisiculturista Vegano” , no grupo “Musculação Vegana” e no Instagram.
Portal: Ficamos sabendo que você vai se casar em novembro… será um “casamento veg”?
Paru: Sim, a Ellen, minha noiva, também é vegana e está cuidando de tudo com muito carinho e cuidado, do buffet às lembrancinhas. Eu tento ajudar na medida do possível e dou uns pitacos.
Vai ter mesa de antepastos, salgados, pratos quentes, bolo, doces (da Divegana) e bebidas, tudo 100% vegan.
O pedido de noivado foi feito na loja VegVeg Empório Vegetariano: aproveitei a estadia em Curitiba e fiz uma surpresa, porque nos conhecemos através do Instagram da loja.
Portal: Quais seus planos para o futuro? O fisiculturismo vai continuar sendo um hobby ou você pretende se profissionalizar?
Paru: Para ser um fisiculturista profissional é um caminho bem longo e caro, é necessário vencer uma etapa mundial, para isso tem que ter muito apoio, patrocínio de grandes empresas, dedicar a vida a isso. Para se ter ideia, os investimentos passam das cifras dos milhares para os milhões. As exigências ao corpo são extremas, e destoam da saúde.
Pretendo competir apenas nacionalmente e continuar divulgando o veganismo no país. Abandonei a engenharia para cursar nutrição. Pretendo reiniciar depois do casamento e, num futuro distante, ter um empreendimento 100% vegano.
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