Entrevista com voluntário da Sea Shepherd Conservation Society
Entrevistamos o brasileiro Guiga Pirá, voluntário da Sea Shepherd Global, que está nesse momento na Alemanha se preparando para ir em direção as Ilhas Faroe, onde acontece a cruel caça a baleias-piloto.
Os caçadores locais, contam com o apoio dos militares, que juntos cercam os animais no mar, pressionando-os até a costa. As baleias ficam encalhados e aterrorizadas, então os caçadores se aproveitam da situação e começam a esfaquear as criaturas nas espinhas, cortando a medula espinhal que é o principal suprimento de sangue. Nada muito diferente do que ocorre com diversas espécies mortas para consumo humano ao redor do planeta.
Confira a entrevista com o voluntário da Sea Shepherd abaixo.
– O que são as Ilhas Faroé?
Guiga: As Ilhas Faroé é um protetorado da Dinamarca. Apesar de ser considerado um país independente, ainda recebe subsídios e tem a Defesa, Polícia, Moeda e Políticas Externas controlada pela Dinamarca.
– Como e por que acontece a matança de baleias nas Ilhas Faroé?
Guiga: A matança de baleias piloto acontece lá porque é uma tradição local. Há muitos anos, a carne e gordura desses animais ajudaram a população a sobreviver em um local tão isolado, mas não é mais o caso.
As Ilhas desfrutam de um dos maiores padrões de vidas do mundo. É fácil de achar lá qualquer produto que se compra com facilidade em outros supermercados europeus, até mesmo produtos veganos que a gente só acha no Brasil com muita dificuldade.
Hoje em dia, não existe mais a necessidade de comer carne e gordura de baleia, mas ainda é feito porque vem acontecendo há centenas de anos, apesar da declaração oficial do Médico Chefe das Ilhas em 2008 dizendo que não é seguro para consumo humano por causa da contaminação de mercúrio e outros metais pesados.
– Em sua opinião, o que faz essas pessoas terem esse tipo de atitude com as baleias? Sadismo? Cultura ou Especismo?
Guiga: As pessoas ainda praticam essa matança porque querem manter a tradição viva, e defendem que é uma oportunidade de conseguir comida de graça, já que a carne é distribuída entre a comunidade, mas, na minha opinião, isso é reflexo do especismo.
Muitos locais usam os mais diversos argumentos pra continuar com a prática, mas todos não passam de desculpas. Enquanto dizem que não ganham dinheiro com a matança, é fácil achar carne de baleia piloto em muitos restaurantes e supermercados nas Ilhas.
Alegam que precisam da matança porque conseguem comida de graça, mas não existe pobreza no país. Ou seja, tentam justificar atos de maldade para defender uma tradição que deveria existir somente na história.
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– Qual o trabalho da Sea Shepherd em relação as Ilhas Faroe?
Guiga: A Sea Shepherd lidera a oposição contra a matança (que é chamada de Grindadráp ou Grind) desde os anos 80. Esse ano marca a nossa maior presença no mar até então, onde fazemos o que for preciso para tentar proteger as baleias e golfinhos que nadam perto das Ilhas.
No ano passado, salvamos mais de mil cetáceos direcionado-os para longe das praias onde a matança é permitida, mas tivemos 17 voluntários presos.
Esse ano, 7 já foram presos e outras vidas salvas. Acreditamos que as consequências de tentar salvar uma vida é apenas um inconveniente temporário para nós, enquanto para os animais é tudo que possuem.
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– Como está o andamento da ação nesse momento? Soube que o seu navio está atracado na Alemanha.
Guiga: Nesse momento, temos uma equipe de terra patrulhando as praias e pontos de monitoramento nas diversas ilhas do arquipélago, ao mesmo tempo em que duas embarcações fazem o mesmo nas águas ao redor.
O navio em que estou embarcado, está num porto na Alemanha, finalizando reparos mecânicos para navegarmos o quanto antes para as Ilhas Faroé e nos juntar ao restante da frota.
Vamos ficar lá até o final do período de migração de baleias piloto para garantir a segurança delas.
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– A Sea Shepherd já chegou a colocar ativistas para habitar a Ilha e acompanhar as movimentações, porém, já se viu obrigada a retirar seus voluntários por conta de ameaças e por zelar pela vida deles. Como a população local lida com a prática de matança das baleias na Ilha e como enxergam a Sea Shepherd?
Guiga: A gente possui contatos dentro do país. Realmente, muitas ameaças e até agressões aconteceram durante nossas operações, mas isso não nos intimida, e pelo contrário, nos dá força para manter nossas posições.
Somos vistos como inimigos nacionais, mas garanto que essa é a mesma visão que as baleias e golfinhos têm dos caçadores faroenses, e pra nós o que mais importa é o direito da vida marinha de nadar livre pelos oceanos. É por ela que lutamos.
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– O que pessoas de outra parte do Planeta podem fazer para ajudar?
Guiga: Existem muitas formas de fazer parte e ajudar essa causa, e se voluntariar para estar presente na linha de frente é uma delas. Se a disponibilidade é um problema, a doação para que essa campanha continue salvando vidas é uma opção.
Mas algo que todos podem fazer e não envolve disponibilidade de tempo nem financeira é pressionar o governo dinamarquês para parar de apoiar essa matança com sua marinha, enviando e-mails para as embaixadas e consulados ao redor do mundo dando voz à sua opinião sobre essa prática.
Infelizmente, a marinha dinamarquesa protege a caça de baleias piloto nas Ilhas Faroé, e é responsável pela prisão de vários dos nossos voluntários, mesmo sendo uma prática ilegal na Dinamarca e nos resto da União Europeia.
– Alguma mensagem final para nossos leitores?
Guiga: Uma mensagem para todo mundo é que acreditem na força de indivíduos dotados de paixão e criatividade, pois é somente isso que trouxe mudanças no mundo ao longo da história. Todos nós podemos fazer parte da solução, basta realmente querer e acreditar.
Guiga Pirá, voluntário da Sea Shepherd Global.
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Nós do Camaleão recomendamos, a todos nossos leitores, que enviem mensagens solicitando o fim da prática de matança de baleias nas Ilhas Faroe, se possível, façam doações a Sea Shepherd Global e visitem também o novo site criado em homenagem às baleias mortas nos últimos Grinds e aos 7 voluntários presos: www.standup250.org.
Embaixada da Dinamarca no Brasil
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