O percentual da superfície terrestre atingido por temperaturas muito elevadas no verão aumentou nas últimas décadas, subindo de 1% nos anos anteriores a 1980 a até 13% nos anos recentes, segundo um novo trabalho científico.
Essas alegações, que vão além do consenso científico sobre o papel das mudanças climáticas como causa de eventos metereológicos extremos, foram feitas por James Hansen, estudioso do clima da Nasa, e dois coautores em um estudo publicado na revista “PNAS” (“Proceedings of the National Academy of Sciences”).
“O mais importante é olhar as estatísticas e ver que a mudança é grande demais para ser natural”, afirmou Hansen em entrevista.
Como líder do Instituto Goddard de Estudos Espaciais em Manhattan, ele é um dos principais cientistas de clima da Nasa e guarda seus registros da temperatura terrestre ao longo dos anos. Mas ele também se tornou um ativista que marcha em protestos para pedir novas políticas de governo quanto à energia e ao clima.
O lado ativista de Hansen, que já causou sua prisão em quatro protestos, tornou-o um herói da esquerda americana. Mas também causou desconfiança entre seus colegas cientistas, que temem que suas atividades políticas estejam colocando em dúvida seus achados sobre a ciência climática.
Os chamados céticos do clima acusam Hansen de manipular os registros de temperatura para fazer o aquecimento global parecer mais severo, mas não há provas de que ele tenha feito isso.
Há tempos os cientistas creem que o aquecimento da Terra no último século, especialmente após 1980, tenha sido causado pela queima de combustíveis fósseis. Mas ainda não há certeza sobre se é possível atribuir a essa ação humana a ocorrência de eventos extremos como ondas de calor ou tempestades.
No novo estudo, Hansen compara o clima de 1951 a 1980, antes do “grosso” do aquecimento global, com os anos de 1981 a 2011.
Ele e sua equipe calcularam quanto da superfície terrestre em cada período foi submetida em junho, julho e agosto (verão no hemisfério norte) a climas extremos. Entre 1951 e 1980, só 0,2% da Terra foi atingido por calor extremo no verão. Mas de 2006 a 2011, o calor extremo cobriu de 4% a 13% do mundo.
“Isso confirma as suspeitas das pessoas de que coisas estão acontecendo com o clima. Só vai piorar”, disse Hansen.
Os achados levaram a equipe dele a dizer que as ondas de calor e a seca dos últimos anos são consequência direta da mudança climática. Os autores não deram provas cabais desse processo, mas sim um argumento circunstancial de que só aquecimento pode ser a causa desses eventos extremos.
Andrew Weaver, cientistas do clima na Universidade de Victoria, no Canadá, comparou o aquecimento recente a surtos de sarampo pipocando em lugares diferentes. Como com a epidemia, disse ele, faz sentido suspeitar de uma causa comum.
Outros cientistas não concordam. Claudia Tebaldi, da organização Climate Central, diz que os achados do trabalho não são novos e que a atribuição de ondas de calor específicas ao aquecimento global não tem base sólida.
Martin Hoerling, pesquisador no National Oceanic and Atmospheric Administration dos EUA, diz que compartilha a preocupação de Hansen mas que ele está exagerando a conexão entre o aquecimento global e eventos específicos.
Hoerling publicou um estudo sugerindo que a onda de calor russa de 2010 foi consequência de variações naturais do clima. Em um novo artigo, ele diz que a seca no Texas em 2011 também teve causas naturais.
O pesquisador diz que o trabalho de Hansen confunde seca, causada por falta de chuva, com ondas de calor. “Este não é um trabalho científico sério. É uma percepção, como diz o título do artigo. Percepção não é ciência.”
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