O turismo irresponsável ameaça, inclusive, o turismo
A chegada do inverno se aproxima, o que significa a diminuição no fluxo de turistas no litoral. Nem todos comemoram, mas para a natureza com certeza é um alívio. Os recifes, por exemplo, sofrem grande impacto por conta do turismo náutico e de banhistas que desrespeitam orientações simples como não aproximar embarcações, não pescar nessas áreas e não alimentar os peixes. Vazamentos de barcos a motor, lixos deixados por visitantes e pisoteio nos recifes são outras ameaças quando o turismo é predatório.
Recifes são importantes por sua enorme biodiversidade. Suas rochas abrigam animais como corais, peixes, moluscos e crustáceos. Diversas espécies frequentam os recifes para comer ou para se reproduzir. Também por sua diversidade vegetal, são considerados verdadeiras “florestas marinhas”.
Suas águas calmas, a proximidade com os peixes e as boas condições para mergulho de snorkel atraem muitos turistas aos recifes. Trata-se, porém, de um ambiente sensível às ações humanas. Apesar de haver alguns recifes incluídos dentro dos limites de Unidades de Conservação e Áreas de Preservação Ambiental, ainda não há no Brasil uma lei específica para sua proteção. Um projeto de lei (3855/12) que inclui os recifes de coral entre as Áreas de Preservação Permanente tramita no Congresso desde 2012. Se aprovado, fica proibida a pesca amadora e comercial e quaisquer atividades que possam causar sua degradação ou destruição.
Mas, como aponta a advogada e mestranda Thaís Boonen Viotto, na falta de uma legislação específica, a própria Constituição Federal traz a força normativa necessária à proteção dos recifes, por meio do artigo 225, que garante a todos “o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”
Em muitos locais, as próprias comunidades se organizam colocando boias restritivas às embarcações e placas pedindo a colaboração dos visitantes com a preservação dos recifes. Tais medidas, no entanto, nem sempre são suficientes. Não é difícil ver pessoas pescando, jogando pão, salgadinhos e biscoitos na água para atrair os peixes (quase sempre para fazer selfies com eles!), mesmo onde há placas.
É evidente a necessidade de trabalhos de educação ambiental relacionada aos ecossistemas marinhos, assunto familiar ao professor doutor da Universidade de São Paulo Flavio Augusto de Souza Berchez. Ele explica porque não devemos alimentar os peixes nos recifes. “Os alimentos não são adequados e podem afetar a saúde dos animais, ao invés de ajuda-los. Os animais se tornam dependentes dessa alimentação, proliferam e procriam e numa eventual ausência de visitantes acabam ficando sem comida. Mas o mais importante é que você está alterando o equilíbrio normal do ambiente. Ao dar comida, você favorece um determinado grupo de organismos que, como disse antes, irá se proliferar mais que os demais, influenciando outras espécies, que irão influenciar ainda outras“, justifica Berchez.
Em suma, dar pão e salgadinho para atrair peixes a fim de vê-los mais facilmente, leva ao desaparecimento de muitas espécies que, uma vez extintas não mais poderão ser vistas em nossos ecossistemas marinhos. O turismo irresponsável é uma ameaça ao próprio turismo.
Além disso, peixes, corais e outros animais são retirados do mar para serem vendidos como ornamentos para aquários. Eles acabam confinados em uma porção de água cercada por vidros, num ambiente artificial, dependendo de cuidados humanos. Muitos morrem enquanto são transportados. Recentemente, uma reportagem do Fantástico mostrou o caso da Ilha de Itaparica, perto de Salvador (BA), uma região cercada por recifes, de onde saem muitos animais vítimas desse comércio cruel.
Fonte: InforMar Ubatuba
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